segunda-feira, 31 de maio de 2010

Buião

Ponta-direita veloz e habilidoso, daqueles que driblavam os laterais adversários facilmente e colocavam os companheiros de ataque na cara do gol, João Bosco dos Santos, o Buião, ídolo atleticano na década de 60, se realizou, fora do futebol, numa atividade em que velocidade não é necessariamente sinônimo de qualidade.
O ex-jogador, hoje com 55 anos, é proprietário de uma frota de 32 ônibus, que compõem a Viação Buião. A empresa é concessionária do transporte coletivo na cidade de Vespasiano, a 30 quilômetros de Belo Horizonte.
O ex-atacante montou seu negócio com o dinheira que ganhou nos 18 anos em que foi profissional do futebol, numa época, como faz questão de dizer, em que o rendimento dos principais atletas não era tão grande quanto é hoje.
"Ganhei dinheiro quando fui transferido para São Paulo, por que o futebol mineiro, na época, não pagava muito", conta Buião, referindo-se à negociação de seu passe pelo Atlético-MG para o Corinthians, em 1968. "Foi a maior transação do futebol brasileiro naquele ano", cita o ex-ponta, sem lembrar valores.
O que ele não esquece é que teve direito a 15% e luvas, pagos pelo Timão, dinheiro que permitiu comprar umas Kombis e colocar seu pai, José Sérvulo, o Barão, para atuar no ramo de transporte escolar. Nascia ali a Viação Buião.
Quando encerrou sua carreira, em 1982, no extinto Colorado, do Paraná, Buião voltou a morar em Vespasiano, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, passando a se dedicar integralmente à sua empresa.
E sua dedicação não se limitou aos investimentos. Teve muito suor, trabalho e preocupação. Até de motorista ele trabalhou. "Para economizar, eu mesmo fazia algumas linhas", conta Buião, que sempre teve o apoio de sua família no empreendimento.
Primeiro foi o pai, depois os irmãos - oito dos 14 que são vivos trabalham com ele até hoje. A esposa, a paranaense Maria Aparecida Barros dos Santos, com quem se casou em 1974, trabalhava de trocadora, no ônibus em que ele dirigia. Formada em engenharia química, ela largara um bom emprego público no Paraná para acompanhar o marido em sua nova carreira.
Falecida há dois anos, ela e Buião tiveram três filhos: João Bosco Júnior, 25 anos, Juliano, 19, e Geovanni, 16. Nenhum deles se interessou em jogar futebol e só o caçula quis estudar. Os dois mais velhos trabalham com o pai na "garagem do Buião", como a empresa é conhecida em Vespasiano.
Se não ficou milionário como os grandes craques de hoje, Buião não tem do que reclamar. Leva uma vida tranqüila e se orgulha de gerar 72 empregos. "Já cheguei a ter mais de 80 funcionários, mas tive de reduzir por causa da concorrência dos perueiros", revela.
Nas horas vagas, Buião se divide entre acompanhar os treinamentos do Atlético Mineiro, no CT do Galo, localizado em Vespasiano, e presidir o Valença, principal clube amador da sua cidade. Como consegue manter o físico da época de atleta, ainda arrisca suas peladas aos sábados e domingos.
Buião, apelido que o acompanha desde criança quando era gordinho e que é uma derivação de bujão de gás, praticamente nasceu ponta-direita. Com sete anos já jogava na posição e aos 10 defendia o Vespasiano. Aos 16 disputava a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro pelo Independente, da sua cidade.
Pouco antes de completar 18 anos, em 1964, estreou no Atlético, enfrentando o Paraense, de Pará de Minas. Magrinho, veloz e esperto, Buião fez o gol da vitória, caiu nas graças da torcida e assinou contrato por dois anos no dia seguinte.
Em 1968, ele despertou o interesse de times paulistas e cariocas e foi vendido para o Corinthians, que venceu uma disputa com o Flamengo. A sua estréia no Timão não poderia ter sido melhor. Tinha 11 anos que o Timão não vencia o Santos, o que aconteceu no dia 3 de março, por 2 x 0, gols de Paulo Borges e Rivelino. "Não fiz gol, mas joguei muito bem", conta.
Se dava sorte nas estréias, o mesmo não acontecia nas decisões. "Era o maior pé frio", brinca Buião, que só conseguiu ser campeão uma vez em sua carreira. Pelo Colorado, em 1980. Mesmo assim, o título foi dividido com o Cascavel.
Tanto no Galo quando no Timão, Buião foi substituído pelo mesmo jogador: Vagno José de Freitas, o Vaguinho. "Ele chegava, eu saía", diverte-se. Do Corinthians ele foi para o Flamengo, emprestado por um ano.
Terminado o empréstimo, voltou ao Timão, mas não ficou. Foi emprestado ao Atlético Paranaense, iniciando uma permanência de 10 anos no Paraná, com ligeiras interrupções, quando jogou no Grêmio-RS, Rio Negro de Manaus e Sampaio Corrêa do Maranhão.
Nos clubes por onde andou, Buião era, invariavelmente, comparado a Garrincha. Só que, ao contrário do craque das pernas tortas, ele soube dirgir sua carreira até o ponto final. Como um bom motorista de ônibus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Deveria pagar as dívidas trabalhistas e credores né?